Impressões sobre O Engenheiro que virou maçã
Dançarinos: Rita Aquino, Duto Santana, Liria Morays, Paula Carneiro, Leo Franco.
Evento: 2ª FEAP- Feira Engenho das Artes Popular
Onde - Cine Teatro Solar Boas Vista.
Quando: 22 de agosto 2009
Por Fafá Daltro
Coreógrafa Grupo X Improvisação em Dança
Com semblantes moderadamente tranqüilos, os corpos se deslocam devagar mudando de lugar pacientemente, ora sentados, ora deitando sobre almofadas, e em outros momentos recostando em paredes. Com simplicidade e despreocupadamente a cena começa a criar ambientes capturando a atenção do espectador, em sua grande maioria crianças da comunidade que freqüentam o Solar. Íntimos e bem acomodados ao lugar, tanto que, durante o desenrolar do espetáculo suas vozes se faziam ouvir interferindo de certo modo, nos acontecimentos da cena. Sem ter o pleno entendimento da dramaturgia exposta pelos dançarinos, suas considerações eram interessantes, provocadoras e, algumas vezes, preconceituosas. Alguns incômodos se instalaram em seus corpos provocando reações diversas tais como sorrir, se surpreender, se amedrontar, mas, ali estavam elas, mesmo sem saber o que exatamente lhe atingiam, respondiam, dialogavam com os acontecimentos dentro das possibilidades de suas experiências. Eram corpos dialogando com mundos possíveis. Os comentários que teciam a cada acontecimento podíamos imaginar suas sensações e incômodos que a obra suscitava, embora sem consciência dos fatos, da realidade que seus corpos exalavam. Havia certa curiosidade sobre o que o que estava acontecendo naquele ambiente. Um sentimento de paciência e de espera se instalam na cena através de imagens, enquanto o tempo, vagarosamente e sem pressa, num sem tempo vai revelando pouco a pouco sua dinâmica exposta nos corpos que se deslocam, se ajeitam num canto, no recanto de um espaço, da possível casa. Cada momento apresenta uma dramaturgia particular, singular, identificada e percebida nos corpos do espectador implicado, seus olhares acompanham o desenrolar dos acontecimentos. Independência e dependência atuam conjuntamente e ligadas pelos fios invisíveis da rede que se constrói através de seus olhares cúmplices. Uma conexão sutil se estabelece criando o ambiente propício para a poética. Na cena, ela emerge de pontos, lugares sem roteiro definido (ao que parece), mas como que impulsionada pelo processo de desenvolvimento da própria obra. Assim, cenas surgem e ressurgem de lugares e corpo inesperados. Surpreendem pelas sutilezas na construção de sorrisos, a princípio, descompromissados e deflagrados em convulsões contidas no sacolejar do corpo como num grande choro de dor, ou de uma grande gargalhada, que contrai toda a face, tornando-a vermelha pela contenção de energia, representando no corpo o percurso próprio de sentimentos que lá moram e impulsionados por conexões sinápticas, a dança se dá a ver. Contentamento no tilintar dos copos, o prazer de saciar a sede, a estranheza dos sons do corpo, a dor das ausências, a paciência, a espera, a fúria e o desejo contido. Coisas do corpo, inerente ao corpo, passado, presente e futuro se interpõem desenhando nas faces os traços, as expressões de milhões de anos da evolução. De suaves sorrisos desenhados no canto da boca, as vezes com os dentes a mostra, e em outras congelando imagens que desenham a boca com sua linhas, rugas faciais viradas para baixo, escancaradas e em forma de quadrado. Suas bocas corpos choram sem som, sacolejam inaudíveis por dentro e por fora em movimentos espasmódicos. Quem sabe, seriam as dores a euforia do corpo? Assim, o corpo imagina, desenha e expõe a dor, ou pode ser o desejo contido, e que também pode ser da ausência, a solidão do outro, da dor do outro, da perda de si mesmo, sentimentos que se encontram em todos nós, ou simplesmente, a complexidade de compreender os acontecimentos do corpo. Aparecências, coisas não ditas verbalmente, regurgitam o grito gutural trazido de dentro para fora, os sons do corpo, e junto a ele, o corpo alterado em seu estado, com praticamente todos nos músculos intensamente acionados entre movimentos contorcidos, entrecortados, rostos avermelhados estimuladas pela tensão dos capilares num deslocamento conturbado. Parece revelar ausências presenças, a conseqüência de desejos inalcançados, contrações, angústias, confusões, estímulos fortes que conduzem o sofrimento no corpo em bocas escancaradas que se impressionam e se beijam e se acalmam. Basta um afagar dos dedos nos cabelos e tudo se esvai, músculos relaxam, as paciências se bastam. De volta a calma até que outro instante se apresente obrigando o corpo a revelar as suas variadas emoções. E assim, e assim, e..., e..., vivemos a cada instante uma nova fisicalidade do percebido no corpo do outro.
Dançarinos: Rita Aquino, Duto Santana, Liria Morays, Paula Carneiro, Leo Franco.
Evento: 2ª FEAP- Feira Engenho das Artes Popular
Onde - Cine Teatro Solar Boas Vista.
Quando: 22 de agosto 2009
Por Fafá Daltro
Coreógrafa Grupo X Improvisação em Dança
Com semblantes moderadamente tranqüilos, os corpos se deslocam devagar mudando de lugar pacientemente, ora sentados, ora deitando sobre almofadas, e em outros momentos recostando em paredes. Com simplicidade e despreocupadamente a cena começa a criar ambientes capturando a atenção do espectador, em sua grande maioria crianças da comunidade que freqüentam o Solar. Íntimos e bem acomodados ao lugar, tanto que, durante o desenrolar do espetáculo suas vozes se faziam ouvir interferindo de certo modo, nos acontecimentos da cena. Sem ter o pleno entendimento da dramaturgia exposta pelos dançarinos, suas considerações eram interessantes, provocadoras e, algumas vezes, preconceituosas. Alguns incômodos se instalaram em seus corpos provocando reações diversas tais como sorrir, se surpreender, se amedrontar, mas, ali estavam elas, mesmo sem saber o que exatamente lhe atingiam, respondiam, dialogavam com os acontecimentos dentro das possibilidades de suas experiências. Eram corpos dialogando com mundos possíveis. Os comentários que teciam a cada acontecimento podíamos imaginar suas sensações e incômodos que a obra suscitava, embora sem consciência dos fatos, da realidade que seus corpos exalavam. Havia certa curiosidade sobre o que o que estava acontecendo naquele ambiente. Um sentimento de paciência e de espera se instalam na cena através de imagens, enquanto o tempo, vagarosamente e sem pressa, num sem tempo vai revelando pouco a pouco sua dinâmica exposta nos corpos que se deslocam, se ajeitam num canto, no recanto de um espaço, da possível casa. Cada momento apresenta uma dramaturgia particular, singular, identificada e percebida nos corpos do espectador implicado, seus olhares acompanham o desenrolar dos acontecimentos. Independência e dependência atuam conjuntamente e ligadas pelos fios invisíveis da rede que se constrói através de seus olhares cúmplices. Uma conexão sutil se estabelece criando o ambiente propício para a poética. Na cena, ela emerge de pontos, lugares sem roteiro definido (ao que parece), mas como que impulsionada pelo processo de desenvolvimento da própria obra. Assim, cenas surgem e ressurgem de lugares e corpo inesperados. Surpreendem pelas sutilezas na construção de sorrisos, a princípio, descompromissados e deflagrados em convulsões contidas no sacolejar do corpo como num grande choro de dor, ou de uma grande gargalhada, que contrai toda a face, tornando-a vermelha pela contenção de energia, representando no corpo o percurso próprio de sentimentos que lá moram e impulsionados por conexões sinápticas, a dança se dá a ver. Contentamento no tilintar dos copos, o prazer de saciar a sede, a estranheza dos sons do corpo, a dor das ausências, a paciência, a espera, a fúria e o desejo contido. Coisas do corpo, inerente ao corpo, passado, presente e futuro se interpõem desenhando nas faces os traços, as expressões de milhões de anos da evolução. De suaves sorrisos desenhados no canto da boca, as vezes com os dentes a mostra, e em outras congelando imagens que desenham a boca com sua linhas, rugas faciais viradas para baixo, escancaradas e em forma de quadrado. Suas bocas corpos choram sem som, sacolejam inaudíveis por dentro e por fora em movimentos espasmódicos. Quem sabe, seriam as dores a euforia do corpo? Assim, o corpo imagina, desenha e expõe a dor, ou pode ser o desejo contido, e que também pode ser da ausência, a solidão do outro, da dor do outro, da perda de si mesmo, sentimentos que se encontram em todos nós, ou simplesmente, a complexidade de compreender os acontecimentos do corpo. Aparecências, coisas não ditas verbalmente, regurgitam o grito gutural trazido de dentro para fora, os sons do corpo, e junto a ele, o corpo alterado em seu estado, com praticamente todos nos músculos intensamente acionados entre movimentos contorcidos, entrecortados, rostos avermelhados estimuladas pela tensão dos capilares num deslocamento conturbado. Parece revelar ausências presenças, a conseqüência de desejos inalcançados, contrações, angústias, confusões, estímulos fortes que conduzem o sofrimento no corpo em bocas escancaradas que se impressionam e se beijam e se acalmam. Basta um afagar dos dedos nos cabelos e tudo se esvai, músculos relaxam, as paciências se bastam. De volta a calma até que outro instante se apresente obrigando o corpo a revelar as suas variadas emoções. E assim, e assim, e..., e..., vivemos a cada instante uma nova fisicalidade do percebido no corpo do outro.
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